Ex-morador em situação de rua passa em concurso público e recomeça vida em Araras
27/09/2025
(Foto: Reprodução) Cresce número de pessoas que deixaram as ruas em Araras
Com acolhimento, apoio e, principalmente, a vontade de recomeçar, Celso Gonçalvez, 47 anos, está prestes a escrever um novo capítulo de sua vida. Após passar 17 anos em situação de rua, ele se prepara agora para tomar posse em um cargo público conquistado por concurso, em Araras (SP).
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Celso é uma das pessoas atendidas pelo Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua “Dr. Narciso Gomes” (Centro POP), e um exemplo de superação de quem conseguiu sair da vulnerabilidade social e recomeçar a vida.
Neste ano, 20 pessoas saíram da situação de rua em Araras, com a ajuda do trabalho conjunto do Centro Pop, Casa de passagem, Instituto de Difusão Espírita (IDE), Centro de Atenção Psicossocial - Álcool e Drogas (CAPS AD), entre outros.
" Meu pior momento foi em São Paulo. Cheguei a ficar 2 meses na Cracolândia. Ali você está com um pé no inferno e outro na sepultura", disse.
Celso Gonçalves é ex-morador em situação de rua e passou em concurso público em Araras (SP)
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Superação e trabalho
Celso já passou por diversos estados brasileiros e sobreviveu à Cracolândia. Paraná, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Brasília estiveram em seu itinerário durante o tempo em que viveu nas ruas.
O ex-morador de rua lembra que um pedido de ajuda a uma assistente social na Cracolândia mudou a sua vida. "Ela foi um anjo que Deus colocou para eu poder sair dali. Não queria mais a rua", contou.
Após isso, ele começou a ser acompanhado pelo Centro Pop de Araras, e agora se prepara para ser um servidor público concursado. Ele passou em um concurso público e em breve deve ser chamado para trabalhar de servente.
Desejo de mudança
O coordenador do Centro Pop, Sidinei de Pontes enfatiza que o desejo da pessoa de mudar é o fator principal, complementado pela rede de serviços e de apoio.
"O primeiro fator é o desejo da pessoa de sair dessa situação de rua, e depois tem uma rede de serviço por trás disso. Sem uma rede de apoio fica difícil para essas pessoas retornarem ao convívio social. E Araras hoje a gente tem esse suporte e estamos vendo muitos resultados positivos e com histórias maravilhosas", disse.
A conquista de Celso foi comemorada pelo Centro Pop. Lá, os acolhidos recebem apoio direto de um orientador social e de estagiários de psicologia da Fundação Hermínio Ometto (FHO) para estudos. Para o coordenador, a inclusão profissional é uma das principais transformações para a nova etapa de vida.
"O trabalho de preparação para o concurso, que incluiu estudo e acompanhamento contínuo, foi um exemplo de como o apoio especializado pode transformar vidas”, comentou o coordenador.
Recomeço e luta
A trajetória de Márcia Fonseca, de 44 anos, foi de muito sofrimento e luta. Ela passou por dependência química, vulnerabilidade social e se emociona ao lembrar o que já viveu.
Márcia se emociona com o atual momento e está muito feliz com a vida nova em Araras (SP)
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"Mulher na rua é muito amedrontado na parte da noite, sabe? Se tiver sozinha, para comer, para tomar banho, é muito dificultoso, é muito difícil. Já teve tentado estupro, mas eu consegui correr e me defender. Mas já fui agredida. Eu vi que droga, bebida, ia me levar mais abaixo. É cadeia ou cemitério", disse.
Hoje, ela se sente feliz em sua casa alugada e com a possibilidade de cozinhar e ter o que comer. O que para muitos pode ser algo simples, para ela é uma conquista e tanto.
"Agora eu tenho meu cantinho, né? Minha casinha, mesmo alugada, mas está ali, é minha. Tenho minhas coisas, onde eu posso fazer minha comida, e posso comer. Eu sofri muita humilhação. Não quero isso nunca mais", comentou.
O coordenador a Centro Pop reforça que o por trás de uma pessoa em situação de rua, existe o ser humano que precisa de ajuda e ser respeitado.
"A pessoa está em situação de rua, ela é um ser humano, ela tem a sua dignidade, seus desejos. A gente tem que respeitar isso. Se você quer ajudar uma pessoa em situação de rua, converse com ela, encaminhe ela para um serviço especializado, para ela ser tratada com dignidade. Isso é muito importante", conclui.
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